top of page

Xô mosquito: Os terreiros como espaço de promoção a saúde

Por: Rodrigo Carneiro - Babazinho



02/04/2024 | 18:51


As unidades Territoriais Tradicionais - (UTT /Terreiros) tem como umas das suas principais características reunir pessoas que se encontram em vulnerabilidade social. Nesses espaços esses indivíduos recebem cuidados a partir do conhecimento tradicional para seu espírito e para o corpo.





O entendimento das "divindades" conhecidas como Ajoguns (os males), que na tradição Yorubá tem a função específica de fazer contraponto as bençãos existentes, possui como um dos seus principais agentes o Àrùn (a Doença).


Esse Ajogun possui profunda ligação com Ikú, a divindade da morte, sendo ambos necessários que se possa despertar sentimentos, virtudes, ou atitudes que levem a valorização da saúde e da vida respectivamente. A complementariedade de todas as forças existentes é um dos indicadores de africanidades presentes nos saberes tradicionais preservados nos Terreiro.


Na atualidade Àrùn (a doença) se manifesta na sociedade de uma forma cada vez mais agressiva, demonstrando a insatisfação e o não aprendizado da sociedade em relação aos cuidados com a saúde e a vida.


O mosquito Aedes Aegpyti vetor das doenças (Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela) se encaixa perfeitamente no conceito de Ajogun Yorubá, pelo fato de trazer uma negatividade para a sociedade cujo a causa está diretamente relacionada a maus hábitos. Por essa necessidade de entendimento prático e admitindo a ineficácia de alguns procedimentos medicamentos alopáticos no combate a Àrùn, o conhecimento tradicional pode contribuir efetivamente promovendo em seus espaços tradicionais atividades de valorização da saúde coletiva.


O primeiro passo a ser dado no combate ao mosquito da Aedes Aegpyti se dá a partir do exemplo, ou seja, o terreiro deve buscar por alternativas e promover efetivamente ações de combate ao mosquito.


O Ministério da Saúde decretou o dia 19 de novembro como o Dia Nacional do Combate à Dengue, intensificando ainda mais os esforços para conscientização de toda a sociedade. Estudo afirmam que pelo menos 75% dos focos de proliferação do mosquitão estão em áreas residenciais. Nesse número podemos incluir os Terreiros, por estarem estabelecidos em territórios que se encontram em vulnerabilidade social. Os principais possíveis focos de mosquito nos terreiros são:


1- As quartinhas que armazenam água fazendo composição aos igbás dos orixás onde são prestadas as devoções. Apesar de muitas possuírem tampas, o encaixe nessas estruturar não veda ou impedem a entrada dos mosquitos, tornando um possível criadouro.

Solução: O mais indicado é a não utilização contínua desse objeto (não deixar exposto), esvaziar a água armazenada e se possível utilizar o mesmo objeto para todo o coletivo do terreiro.

2- Observar as divindades que possuem seus altares ou igbás na parte externas do terreiro, pois pode ser que acumulem água.

Solução. Preencher as bacias, alguidares ou porões com areia, terra ou qualquer material impeçam o acúmulo de água.

3- Verificar o armazenamento de água nos buracos também chamados de pontos de firmeza ou assentamentos que ficam enterrados.

Solução: Vedar os buracos com cimento, silicone ou qualquer material que possa impedir a entrar de água e dos mosquitos.

4- Fiscalizar a presença de água acumulada nos porões que ficam acima da porta, na frente dos terreiros ou ainda na cumieira.

Solução: Preencher esses objetos com areia, vedar as tampas ou ainda repensar necessidade da utilização desses objetos nesses locais e se possível cobrir evitando a entrada de água.

5- Observar os copos, garrafas, pires, pratos, alguidares e outros objetos utilizados nas oferendas as divindades que possam acumular água.

Solução: Retirar, lavar e guardar todos os objetos arriados após a sua utilização.

 Além dos possíveis focos específicos dos terreiros mencionados acima, devemos tomar medidas preventivas também nas residências que devem ser adotadas pela população, durante todo ano. São elas:

- Utilizar telas nas janelas e repelentes em áreas de reconhecida transmissão;

- Remover recipientes com água parada, onde o mosquito deposita os ovos e se reproduz, como bandejas de ar-condicionado, calhas, pratos de vasos de plantas;

- Vedar reservatórios e caixas de água;

- Desentupir calhas, lajes e ralos;

- Manter os ambientes livres de lixo e ter cuidado ao guardar materiais como garrafas, pneus, e até vasos sanitários sem uso;

- Participar na fiscalização das ações de prevenção e controle da dengue executadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).


A conscientização e a prevenção são os melhores ebós que os Terreiros de matrizes africanas podem ensinar a população em seus espaços, pois caso ocorra a contaminação de algum membro do terreiro isso pode afetar toda a comunidade de asé e levar essa pessoa até a morte nos casos mais graves.

Façamos a nossa parte, promova em seu terreiro ações educativas antes das giras, xirês, ou funções internas, esse momento pode prevenir o ataque de Àrùn (a doença) a sua comunidade.


Para mais explicações, informações, indico o site da FIOCRUZ (https://portal.fiocruz.br/doenca/dengue)


Asé, Asé, Asé!



Rodrigo Carneiro - Babazinho - AxéNews

Rodrigo Carneiro - Babazinho

Rodrigo Carneiro - Babazinho (Iwin L'orun Egbe Tayó).

​Professor de biologia (Seeduc), Pedagogo, Mestre em ensino de ciências, ambiente e sociedade ( Uerj-Ffp) , especialista em educação étnico -racial ( Ufrrj), Sacerdote do Terreiro de Obatalá -Ile Omi Orun, fundador do Instituto Terreiro Sustentável.Atuo com educação ambiental popular de terreiro, cultura, sustentabilidade e saúde.  


Rede Social de Rodrigo Carneiro - Babazinho:


Telefone: 21 96722-2241

Comments


bottom of page